No 100º dia do mandato de Trump, novo embaixo americano na China é eleito.

Conforme noticiado pelo Asian News, o Senado dos Estados Unidos confirmou, por 67 votos a 29, o ex-senador republicano David Perdue como o 14º embaixador norte-americano na China. A nomeação ocorre em meio a tensões comerciais crescentes entre as duas maiores economias do mundo, marcadas por tarifas de 145% impostas pelos EUA sobre produtos chineses e retaliações de 125% por parte de Pequim. Perdue, aliado do presidente Donald Trump, é conhecido por sua postura crítica em relação à liderança chinesa, mas defende uma abordagem estratégica e não partidária nas relações bilaterais.

Durante sua audiência de confirmação, Perdue destacou a importância de aumentar o ritmo do diálogo diplomático para alcançar resultados e promover um comércio justo e recíproco entre as duas economias. Ele enfatizou que, apesar das divergências naturais entre os países, é essencial buscar áreas de interesse comum para desenvolver uma relação de trabalho mais segura e produtiva.

A experiência de Perdue como executivo de empresas Fortune 500 e sua vivência internacional podem contribuir para aliviar as tensões e fomentar uma relação mais construtiva entre os EUA e a China. No entanto, a confirmação de sua nomeação também coincide com o 100º dia do segundo mandato de Trump, marcando um momento crítico nas relações bilaterais.

PARA CONTEXTUALIZAR

Desde o estabelecimento de relações diplomáticas formais entre os EUA e a China em 1979, os dois países passaram por períodos de cooperação e tensão. Nas últimas décadas, a China emergiu como uma potência econômica global, desafiando a hegemonia dos EUA em várias áreas, incluindo comércio, tecnologia e influência geopolítica.

Durante o primeiro mandato de Donald Trump (2017-2021), as relações sino-americanas se deterioraram significativamente, com a imposição de tarifas comerciais, restrições a empresas chinesas como a Huawei e disputas sobre propriedade intelectual, como bem sabemos este conflito se extendeu para o governo de Joe Biden, com restrições de outras empresas como o TikTok tomando os noticiários mundiais. Durante a pandemia do COVID-19 as questões relacionadas a Taiwan e ao Mar do Sul da China exacerbaram ainda mais as tensões.

A nomeação de David Perdue como embaixador ocorre em um momento em que os EUA buscam reafirmar sua posição frente à China, adotando uma postura mais assertiva nas negociações comerciais e nas questões de segurança regional. A escolha de um aliado político com experiência empresarial reflete a estratégia de Trump de combinar pressão econômica com diplomacia direta.

A presença de Perdue em Pequim representa a reabertura dos canais diplomáticos que foram estressados durante o tarifaço realizado pelo governo Trump no último dia 02 de abril de 2025, um mês atrás, e pode facilitar a retomada de negociações de alto nível deixando de lado as bravatas comuns do presidente americano e especialmente em áreas comerciais e de segurança.

Por outro lado, caso não haja progresso nas negociações, as tarifas podem permanecer ou até aumentar, afetando empresas e consumidores em ambos os países, apesar de sinais de alguns movimentos de recuso americano sinalizado por conversas entre o presidente Donald Trump e o líder do Partido Comunista Chinês Xi Jinping.

As ações dos EUA e da China podem influenciar a dinâmica geopolítica na Ásia-Pacífico, afetando aliados e parceiros comerciais.

QUEM É DAVID PERDUE?

David Alfred Perdue Jr. é um político conservador e empresário norte-americano, membro do Partido Republicano. Ele representou o estado da Geórgia no Senado dos Estados Unidos de 2015 a 2021. Durante seu mandato, Perdue destacou-se por sua defesa da política econômica de Donald Trump, especialmente em temas de comércio internacional, desregulamentação e corte de impostos.

Ele integrou comitês estratégicos como o Comitê de Relações Exteriores, o Comitê de Orçamento e o Comitê de Agricultura, o que lhe deu acesso a debates importantes sobre acordos comerciais e segurança alimentar, ambos relevantes nas relações com a China.

Foi um ferrenho defensor da guerra tarifária contra Pequim, posicionando-se como um “realista econômico”, contrário à dependência norte-americana de produtos chineses. Também votou favoravelmente a projetos que ampliavam o orçamento militar, condizente com uma visão de contenção da China no Indo-Pacífico.

Antes da política, Perdue teve uma longa carreira no setor privado, atuando como executivo em empresas de grande porte, como CEO da Reebok, Sara Lee, Dolar General (expandiu a empresa para mais de 2.600 lojas) e Pillowtex (onde trabalhou na tentativa de evitar a falência da empresa).

Sua atuação foi marcada por uma visão de gestão enxuta, foco em resultados e negociações com fornecedores internacionais, incluindo empresas chinesas. Isso lhe deu experiência direta com o sistema econômico e a cultura de negócios da China, o que pode ser visto como um ativo em sua missão diplomática.

Apesar disso, seu discurso recente tem demonstrado um tom mais pragmático e técnico, sinalizando que sua missão em Pequim será diplomática, mas baseada em firmeza e reciprocidade. Ele defende uma diplomacia “não partidária”, focada no comércio justo, segurança nacional e influência global.

A nomeação de David Perdue reflete a estratégia de Donald Trump de usar figuras próximas, com experiência empresarial e discurso firme, para lidar com adversários estratégicos como a China. Sua passagem pelo setor privado, combinada com o conhecimento político e ideológico alinhado ao trumpismo, faz dele um embaixador que poderá tanto acirrar tensões quanto conduzir negociações duras com resultados concretos.

PORQUE DAVID PERDUE PARA A EMBAIXADA?

Para entendermos a escolha do senador precisamos compreender o conceito de “Diplomacia executiva” que é uma abordagem diplomática conduzida por agentes com formação e experiência no setor empresarial, em vez de uma carreira tradicional no serviço exterior. Trata-se de uma diplomacia que prioriza resultados objetivos, pragmatismo econômico e negociações baseadas em custo-benefício, muitas vezes importando ferramentas do mundo corporativo (como benchmarking, gestão de risco, estratégia de mercado) para o campo das relações internacionais.

No lugar de uma linguagem diplomática clássica, mais protocolar e orientada a tratados multilaterais, a diplomacia executiva busca resolver conflitos com mentalidade de CEO: foco em contratos, acordos bilaterais vantajosos e soluções mensuráveis.

A China é uma superpotência comercial com uma lógica de negociação altamente estratégica e econômica, baseada em planejamento de longo prazo e pragmatismo estatal-empresarial. Enviar um diplomata tradicional pode significar cair num jogo de retórica e atrasos burocráticos.

Já um diplomata com perfil executivo, como David Perdue:

• Conhece o jogo corporativo chinês (cadeia de suprimentos, custos, logística);
• Fala a linguagem do lucro e da produção;
• Consegue se mover mais rapidamente no mundo dos negócios e das sanções econômicas;
• Tem mais liberdade para agir como negociador direto em disputas comerciais.

Contudo, existem alguns riscos que precisam ser colocados na mesa: como a falta de compreensão das sensibilidades diplomáticas e culturais, alguns incidentes relacionados a adotação de um discurso excessivamente transacional gerando ressentimento ou perda de soft power, além da desvalorização dos canais multilaterais tradicionais, como a ONU ou OMC.

Portanto, a nomeação de Perdue para a embaixada dos EUA na China sinaliza uma mudança de paradigma: menos diplomacia clássica, mais barganha econômica direta. Em tempos de guerra comercial, disputas por semicondutores, investimentos estratégicos e vigilância tecnológica, enviar um negociador experiente do setor privado pode ser visto como uma tentativa de falar a mesma língua de Pequim, uma linguagem baseada em poder, projeção e pragmatismo.

E você, o que acha desta escolha e das possíveis consequências dela?☺

Quem escreveu essa análise.