27 de outubro de 2025

Propostas de Reforma da ONU Detalhadas em Memorando Interno

Um memorando interno da ONU, revisado por agências como Reuters e ABC News, propõe uma reestruturação significativa da organização para enfrentar uma crise financeira sem precedentes. As propostas incluem a fusão de múltiplas agências em quatro departamentos principais: paz e segurança, assuntos humanitários, desenvolvimento sustentável e direitos humanos. A iniciativa visa eliminar sobreposições, reduzir custos e melhorar a eficiência operacional.

Entre as sugestões estão a consolidação de agências como o Programa Mundial de Alimentos, UNICEF, OMS e ACNUR em uma única entidade humanitária. Além disso, considera-se a integração do UNAIDS à OMS e a descentralização das operações de paz e segurança para uma gestão mais regionalizada. O memorando também aborda a necessidade de adaptar a ONU às novas tecnologias, como a inteligência artificial, e de reformular a cultura organizacional interna.

Essas propostas surgem em um contexto de cortes significativos no financiamento, especialmente por parte dos Estados Unidos, que acumulam uma dívida de US$ 2,7 bilhões com a organização. A crise financeira resultou em cortes de pessoal e serviços em várias agências da ONU. O secretário-geral António Guterres destaca a urgência de reformas para garantir a eficácia e legitimidade contínuas da ONU em um cenário geopolítico em transformação.

CONTEXTUALIZANDO

Desde sua fundação em 1945, a ONU tem enfrentado desafios relacionados à eficiência e à burocracia. Ao longo das décadas, diversas propostas de reforma foram apresentadas para adaptar a organização às mudanças globais. Nos anos 1990, por exemplo, os Estados Unidos retiveram contribuições devido a preocupações com a ineficiência, levando à criação do Escritório de Serviços de Supervisão Interna (ESSI) em 1994.

Em 1997, o então secretário-geral Kofi Annan lançou um programa abrangente de reformas, visando fortalecer a gestão estratégica e consolidar atividades da ONU. Apesar desses esforços, a organização continuou a enfrentar críticas por sua estrutura fragmentada e sobreposição de mandatos. A Cúpula Mundial de 2005 representou uma tentativa significativa de reforma, resultando na criação do Conselho de Direitos Humanos e da Comissão de Consolidação da Paz.

Nos últimos anos, a situação financeira da ONU se deteriorou, agravada por cortes no financiamento de países membros, especialmente dos EUA sob a administração Trump. Essa crise levou à necessidade urgente de reformas estruturais para garantir a sustentabilidade e relevância da organização no cenário internacional.

Certamente que o apoio americano não é era por mero altruísmo, mas sempre foi uma ferramenta de hegemonia inteligente: custava menos do que guerras, fortalecia a imagem americana no mundo e mantinha a governança global funcionando segundo seus valores e interesses.

SINAIS DE CRISE

  1. Paralisia do Conselho de Segurança: O mecanismo mais poderoso da ONU está frequentemente bloqueado por vetos de membros permanentes, especialmente EUA, China e Rússia que são três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, completam a lista o Reino Unido e a França. Essa falta de consenso entre os membro torna o órgão ineficaz em crises como Gaza, Síria, Ucrânia e Iêmen.
  2. Falta de representatividade: A composição atual do Conselho reflete o poder geopolítico de 1945. Potências emergentes como Brasil, Índia, Alemanha, Japão e África do Sul continuam sem assento permanente, o que mina a legitimidade política do sistema. Mesmo sem força militar comparável à dos EUA ou da China, potências como Brasil, Índia ou Japão representam grandes blocos regionais, economias-chave e pontes diplomáticas. Sua maior participação não é um prêmio, mas uma exigência da nova configuração de poder global.
  3. Burocracia excessiva: A ONU é fragmentada em dezenas de agências, com estruturas sobrepostas, escassez de resultados mensuráveis e lenta adaptação às crises modernas.
  4. Perda de confiança: A percepção pública (inclusive em democracias liberais) é de que a ONU não resolve os principais problemas do mundo, agindo mais como um fórum de debates do que como agente transformador.

Essa crise de legitimidade abriu espaço para o crescimento de soluções paralelas, como alianças regionais (OTAN, BRICS, ASEAN) e organizações financeiras alternativas (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, Novo Banco de Desenvolvimento).

Da mesma forma, os Estados Unidos sempre foram o principal financiador da ONU, arcando com cerca de 22% do orçamento ordinário e 25-28% do orçamento de operações de paz. Essa posição dominante lhes confere influência desproporcional nas decisões e nomeações dentro da organização.

Quando falamos nos repassos americanos, vale destacar que os EUA devem cerca de US$ 2,7 bilhões à ONU, grande parte acumulada desde o governo Trump, que reduziu ou bloqueou repasses a agências como a OMS, UNRWA (Palestina) e UNESCO. Mesmo sob o governo Biden, a pressão política interna (especialmente do Congresso republicano) dificultou o aumento de financiamento para organismos multilaterais.

E fica claro que a dependência de um só país expõe a ONU a chantagens políticas e variações de política externa a cada mudança de administração nos EUA.

Portanto, a ONU precisa de reformas para diversificar suas fontes de financiamento como doações privadas e maior contribuição de países emergentes, permitindo uma descentralização do financiamento e a redução da dependência americana. A crise fiscal atual exige redução de custos, fusão de agências e eliminação de redundâncias, como propõe o memorando. No fundo, essa dependência cria uma tensão: a ONU precisa dos EUA para sobreviver, mas também quer manter uma imagem de neutralidade e multilateralismo.

Como sempre, deixe a opinião, vamos construir um debate saudável sobre o tema.

Quem escreveu essa análise.

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