27 de outubro de 2025

Ministro das Relações Exteriores do Irã visita Paquistão para mediar tensões

A NOTÍCIA

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, chegou a Islamabad nesta segunda-feira (5 de maio) para tentar mediar a crescente tensão entre Paquistão e Índia, após o ataque de 22 de abril em Pahalgam, na Caxemira controlada pela Índia, que deixou 26 mortos, a maioria turistas hindus. A Índia acusa o Paquistão de envolvimento no atentado, o que Islamabad nega, oferecendo cooperação para uma investigação internacional.

Durante sua visita, Araghchi se reuniu com o presidente paquistanês Asif Ali Zardari, o primeiro-ministro Shehbaz Sharif e o ministro das Relações Exteriores Ishaq Dar. O Irã expressou preocupação com a escalada entre os vizinhos armados nuclearmente e ofereceu seus “bons ofícios” para facilitar o diálogo. Araghchi também planeja visitar a Índia nos próximos dias.

Enquanto isso, o Paquistão realizou testes de mísseis de curto e médio alcance, e a Índia conduziu exercícios de segurança em vários estados. Ambos os países expulsaram diplomatas, suspenderam o comércio e fecharam o espaço aéreo mútuo. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, instou ambas as partes a exercerem moderação e evitarem uma escalada maior .

CONTEXTUALIZANDO

A região da Caxemira tem sido um ponto de discórdia entre Índia e Paquistão desde a Partição de 1947, com ambos os países reivindicando o território integralmente. Essa disputa levou a três guerras e inúmeros confrontos menores. A insurgência na Caxemira indiana, iniciada em 1989, intensificou as tensões, com a Índia acusando o Paquistão de apoiar militantes, o que Islamabad nega.

O ataque de 22 de abril em Pahalgam reacendeu essas tensões. A Índia responsabilizou o Paquistão, enquanto este negou envolvimento e ofereceu cooperação para uma investigação internacional. A situação levou a uma série de medidas retaliatórias, incluindo expulsão de diplomatas e suspensão de acordos bilaterais.

O Irã, mantendo relações com ambos os países, ofereceu-se para mediar a crise. A visita de Araghchi ao Paquistão e a planejada visita à Índia refletem os esforços de Teerã para evitar uma escalada entre os vizinhos nucleares. No entanto, a Índia tradicionalmente rejeita mediações externas em assuntos bilaterais, especialmente relacionados à Caxemira .

ANALISANDO

A Caxemira é um dos conflitos territoriais mais antigos do mundo moderno. Desde a Partição de 1947, a região foi dividida entre Índia (Jammu e Caxemira), Paquistão (Azad Caxemira e Gilgit-Baltistão) e, em menor escala, China (Aksai Chin). O problema é que todos os lados a reivindicam integralmente, e os acordos iniciais, como o Instrument of Accession, são contestados. A ONU, que vive um período de reformulação, já emitiu resoluções sugerindo plebiscito, mas a Índia rejeita qualquer mediação externa, considerando o território “assunto interno”.

A Índia acusa o Paquistão de apoiar militantes islâmicos que atuam na Caxemira indiana, como o Jaish-e-Mohammed e o Lashkar-e-Taiba. O Paquistão nega apoio estatal, mas múltiplos relatórios de inteligência internacionais confirmam que setores do ISI (serviço secreto paquistanês) toleram, financiam ou fazem vista grossa a esses grupos, como forma de manter “pressão assimétrica” sobre a Índia.

PORQUE O IRÃ QUER MEDIAR ESTE CONFLITO?

O Irã tradicionalmente não se envolve diretamente em conflitos sul-asiáticos, mas aqui há uma jogada estratégica tripla:

  • Melhorar sua imagem internacional após anos de sanções: isolado pelo Ocidente há anos e enfrentando sanções, o Irã vem tentando se projetar como ator regional construtivo. Já mediou negociações no Iêmen, Síria e agora quer ser visto como um “pacificador responsável” na Ásia, aproximando-se do modelo multipolar defendido por China e Rússia.
  • Evitar instabilidade nas fronteiras com o Paquistão: o país compartilha fronteira com o Paquistão e já tem problemas com insurgentes baluches na província de Sistão-Baluchistão (onde há tráfico, separatismo e atentados). Um conflito entre Índia e Paquistão poderia incendiar ainda mais a região e desestabilizar o eixo Teerã-Islamabad.
  • Tanto a Índia quanto o Paquistão são parceiros importantes para o Irã:
    • Com o Paquistão, há uma relação energética e de segurança delicada, e cooperação fronteiriça.
    • Com a Índia, o Irã mantém acordos de infraestrutura como o porto de Chabahar, que é um contraponto à CPEC paquistanesa e à influência chinesa no Oceano Índico.

Essa diplomacia ativa iraniana marca uma mudança de perfil regional e pode indicar um novo posicionamento estratégico de Teerã na Ásia.

Além disso, Índia e Paquistão são potências nucleares com arsenais ativos, sem acordos firmes de controle de armas ou canais de comunicação de crise bem estabelecidos. Pequenos confrontos convencionais, como o ataque de Pulwama (2019) ou o de agora em Pahalgam, podem escalar rapidamente, e o mundo já viu isso quase acontecer.

E AS GRANDES POTÊNCIAS?

A disputa entre Índia e Paquistão por Caxemira nunca foi apenas bilateral. Ela envolve interesses de todas as grandes potências, e a movimentação diplomática do Irã é apenas mais um sintoma disso.

A China, por exemplo, é a potência que mais claramente se posiciona a favor do Paquistão. Além da longa parceria estratégica e militar, Pequim tem interesses territoriais e econômicos diretos: a CPEC (China–Pakistan Economic Corridor), parte do projeto da Nova Rota da Seda, passa por territórios da Caxemira administrados pelo Paquistão, como Gilgit-Baltistão, o que a coloca em rota de colisão com a Índia, que vê isso como uma violação de sua soberania.

Ao mesmo tempo, os EUA mantêm parcerias estratégicas com a Índia, principalmente como contrapeso à influência chinesa na Ásia. Contudo, não podem ignorar o Paquistão, por sua localização geopolítica crítica (vizinho do Irã, China, Afeganistão) e seu histórico de cooperação militar com Washington durante a Guerra Fria e a Guerra ao Terror.

A Rússia, por sua vez, historicamente aliada da Índia, tenta manter uma postura neutra, mas vem fortalecendo laços com o Paquistão por meio de acordos militares e energéticos, e agora, inclusive, coopera com o Irã em assuntos regionais e no contexto do BRICS+.

Já a ONU, embora tenha tentado intervir diversas vezes desde 1947 com resoluções como a 47 (que previa um plebiscito na Caxemira), tem influência limitada, pois a Índia rejeita qualquer tipo de internacionalização da questão. Sua posição é clara: “Caxemira é um assunto interno.”

PARA A CHINA EXISTE MAIS EM JOGO

A aliança sino-paquistanesa é das mais sólidas da Ásia. Muitas vezes chamada de “amizade mais alta que as montanhas e mais profunda que o mar”, ela tem raízes históricas e estratégicas:

  • Território cedido: Em 1963, o Paquistão cedeu à China parte da Caxemira ocupada (o território de Shaksgam, cerca de 5.800 km²), o que reforçou a aliança e enfureceu a Índia.
  • Militarização e tecnologia nuclear: A China forneceu tecnologia nuclear e balística ao Paquistão durante as décadas de 1980 e 1990, essencial para o desenvolvimento do seu arsenal.
  • A CPEC: O Corredor Econômico China–Paquistão, avaliado em mais de US$ 60 bilhões, conecta Xinjiang (oeste da China) ao mar da Arábia, cruzando áreas disputadas na Caxemira. Isso transforma o Paquistão em um parceiro logístico chave para os interesses chineses na Ásia e no Golfo.

Logo, qualquer confronto direto entre Índia e Paquistão também é visto por Pequim como uma ameaça a seus próprios projetos, o que pode levá-la a pressionar por contenção ou, se necessário, a intervir diplomaticamente.

PORTANTO

Diante da continuidade das acusações mútuas e das ações militares cada vez mais provocativas, o risco de uma escalada militar entre Índia e Paquistão torna-se alarmante, especialmente considerando que ambas são potências nucleares. Um confronto direto não apenas colocaria milhões de vidas em perigo imediato, mas também resultaria em deslocamentos forçados, agravando crises humanitárias em uma das regiões mais militarizadas do planeta. Além disso, a instabilidade prolongada comprometeria investimentos estrangeiros, paralisaria corredores comerciais estratégicos e afetaria duramente as economias locais, ampliando o custo geopolítico de um conflito que poderia ser evitado com diplomacia eficaz e cooperação internacional.





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