26 de outubro de 2025

Israel bombardeia aeroporto no Iêmen após ataque dos Houthis; Trump promete interromper ofensiva houthi

A NOTÍCIA

Em um novo pico de tensão no Oriente Médio, Israel lançou ataques aéreos contra o aeroporto de Sanaa, capital do Iêmen, em resposta direta ao ataque com míssil balístico lançado pelos Houthis contra o Aeroporto Ben Gurion, próximo a Tel Aviv. Segundo fontes israelenses, o bombardeio destruiu infraestruturas militares no terminal aéreo que serviriam como base de apoio logístico para os Houthis.

De Washington, o presidente Donald Trump afirmou que os EUA irão interromper os ataques dos Houthis, ressaltando que “a liberdade de navegação no Mar Vermelho é uma linha vermelha”. A fala reacende o debate sobre a presença militar americana na região e sinaliza uma escalada mais direta da política externa dos EUA contra o grupo xiita apoiado pelo Irã.

Analistas internacionais interpretam essa nova rodada de hostilidades como parte de uma guerra por procuração que conecta o eixo Irã–Houthis–Hezbollah a Israel e aos EUA, com impactos diretos sobre o comércio marítimo global.

CONTEXTUALIZANDO

A crise atual tem raízes na guerra civil do Iêmen, iniciada em 2014, quando os Houthis, grupo xiita zaidita apoiado pelo Irã, tomaram Sanaa e desafiaram o governo reconhecido internacionalmente. Desde então, os Houthis têm se transformado em uma força regional com capacidade de atacar além das fronteiras do Iêmen, inclusive com mísseis balísticos e drones contra alvos sauditas, israelenses e navios ocidentais.

Israel, que até então se mantinha em relativa distância desse conflito específico, passou a ser diretamente visado pelos Houthis desde a guerra em Gaza em 2023, quando o grupo passou a declarar apoio aberto ao Hamas e à causa palestina. A tentativa de atingir o aeroporto Ben Gurion foi o sinal mais claro dessa expansão do alcance houthi.

A resposta de Donald Trump, atual presidente dos EUA, também se insere num contexto mais amplo marcada por sua promessa de restaurar o “poder de dissuasão americano” na região, em contraste com gestões anteriores. Sua declaração sugere que a marinha americana poderá atuar diretamente contra alvos houthis.

A Marinha dos Estados Unidos mantém uma presença significativa na região do Mar Vermelho, com operações contínuas contra alvos houthis no Iêmen como parte da “Operation Rough Rider”. Recentemente, o porta-aviões USS Harry S. Truman sofreu um incidente durante uma tentativa de pouso de um caça F/A-18 Super Hornet, resultando na perda da aeronave no mar. Apesar de tais contratempos, a presença naval dos EUA visa garantir a segurança da navegação na região, especialmente após os ataques dos Houthis a navios comerciais e militares.

O Irã condenou os ataques aéreos israelenses no Iêmen, acusando Israel de utilizar o conflito com os Houthis para desestabilizar as negociações nucleares entre Teerã e Washington. Autoridades iranianas afirmaram que os Houthis operam de forma independente e alertaram que o apoio dos EUA aos ataques israelenses os torna cúmplices de crimes de guerra.

Os ataques dos Houthis no Mar Vermelho têm causado interrupções significativas no comércio global. Mais de 250 navios comerciais e militares foram alvo de ataques desde novembro de 2023, levando muitas empresas de transporte marítimo a redirecionar suas rotas ao redor do Cabo da Boa Esperança, aumentando os custos e os tempos de entrega.

A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos têm adotado uma postura cautelosa em relação ao conflito no Iêmen. Ambos os países negaram envolvimento em discussões sobre uma possível ofensiva terrestre contra os Houthis, indicando uma preferência por soluções diplomáticas e evitando uma escalada militar direta.

O ataque dos Houthis ao Aeroporto Ben Gurion em Israel e a subsequente retaliação israelense no Iêmen ilustram a complexidade do conflito regional. Além disso, Israel realizou ataques aéreos no sul do Líbano, resultando na morte de dois operativos do Hezbollah, indicando uma escalada das tensões envolvendo múltiplos atores na região.

ANALISANDO

1. Tese do Equilíbrio do Terror (dissuasão assimétrica)

Apesar de Israel possuir uma capacidade militar amplamente superior, os Houthis demonstram como atores não estatais podem desequilibrar o sistema por meio de armas de médio alcance, drones e guerra assimétrica. O ataque ao Aeroporto Ben Gurion é emblemático disso: um grupo paramilitar xiita, em um país destruído como o Iêmen, consegue gerar impacto direto sobre o maior centro aéreo de Israel, sem qualquer ataque nuclear ou convencional em grande escala.

Esse tipo de dissuasão assimétrica muda o cálculo estratégico das grandes potências: não basta superioridade militar, é preciso conter a imprevisibilidade de atores insurgentes com redes transnacionais e apoio estatal (como o Irã). O Mar Vermelho, nesse contexto, deixa de ser apenas uma via marítima e torna-se um tabuleiro geopolítico de alcance global.


2. Tese da Multipolaridade Armada

Com os EUA, Israel, Irã, Arábia Saudita e atores como os Houthis e o Hezbollah envolvidos direta ou indiretamente, o Oriente Médio ilustra a transição para uma multipolaridade armada, em que nenhum ator centraliza o poder, e todos disputam influência em várias frentes simultaneamente, e já vimos na história que os resultados desses conflitos não costumam ser bom para nenhum dos lados. O Irã atua por procuração no Iêmen, no Líbano, no Iraque e na Síria; Israel responde pontualmente, mas sem abrir nova frente total. Já os EUA ora agem como garantes, ora se retraem, conforme o cálculo eleitoral ou econômico.

Essa configuração dificulta resoluções estáveis. O colapso do modelo bipolar da Guerra Fria gerou uma fragmentação da ordem e o crescimento de zonas cinzentas, onde a guerra é contínua, de baixa intensidade, com múltiplos atores sem hierarquia.


3. Tese da Geoeconomia de Infraestruturas

O controle de pontos estratégicos, como o Estreito de Bab el-Mandeb e o Mar Vermelho, tem impactos globais na cadeia logística, no comércio e na energia. Os ataques dos Houthis a navios civis e a interrupção parcial da navegação geraram aumento no preço dos fretes, do petróleo e do risco de investimento na região.

Israel, ao atacar alvos no Iêmen, envia uma mensagem de força; os EUA, ao prometer contenção, buscam estabilizar o fluxo marítimo. Essa guerra já ultrapassou a fronteira militar e se tornou também uma guerra de fluxos, de navios, dados, energia e comércio. A geopolítica do Mar Vermelho está diretamente conectada ao cotidiano econômico global.

PORTANTO

O ataque dos Houthis ao Aeroporto Ben Gurion e a resposta israelense em Sanaa não são eventos isolados: representam uma nova fase do conflito regional que conecta insurgência, dissuasão tecnológica e disputas por rotas comerciais. A entrada direta de Trump na retórica, ao prometer barrar os Houthis, reaquece a projeção de poder americanana região, mas também arrisca reacender frentes que pareciam contidas.

A guerra por procuração entre Irã e Israel ganhou novos contornos, e o Mar Vermelho tornou-se o epicentro dessa colisão de interesses. Diante da multiplicidade de atores, o maior risco não é a guerra total, mas sim a normalização de conflitos crônicos que sangram lentamente o sistema internacional, desestabilizam rotas vitais e testam os limites da ordem liberal global.

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